Varadouros indígenas e percursos indigenistas: Relatos e perspectivas sobre o 'isolamento' dos povos indígenas
Povos indígenas isolados; Narrativas indigenistas; Indigenismo; Amazônia
O “isolamento” dos povos indígenas é um tema amplamente debatido na esfera pública, na sociedade civil, na acadêmica e na mídia. Nas aldeias e assembleias indígenas, a discussão sobre os “parentes” “isolados” é também abordada e, muitas vezes, tratada de forma acalorada pois, geralmente, vincula-se diretamente às discussões sobre os territórios indígenas (e sua proteção). As formas de se relacionarem com seus territórios (as territorialidades), nesse sentido, articulam-se e são influenciadas pelas formas, pacíficas ou não, de se relacionarem com outros coletivos indígenas e/ou com os não-indígenas - Estado e populações do entorno. Suas territorialidades e as formas de se relacionarem com outros coletivos são também pressionadas pela invasão e destruição da floresta. Com base em diferentes experiências etnográficas, proporcionadas por percursos indigenistas como servidor da FUNAI na região amazônica entre 2006 e 2018 - do Acre ao Maranhão, registrados em diários de campo, entrelaçadas a relatos históricos disponíveis em ampla bibliográfica e documentação, procuro com esta dissertação compartilhar relatos e perspectivas indígenas e indigenistas, desenvolvendo diferentes formas de tratar e escrever sobre o tema. A partir do acúmulo e entrelaço dos relatos e perspectivas próprias e bibliográficas, é possível constatar que o “isolamento” - em suas formas diversas – pode ser sinônimo de “contato” e que a mobilização desses conceitos não ocorre apenas em relação aos coletivos ameríndios assim categorizados pelo Estado, mas a todos os povos indígenas. A compreensão profunda do que significa “isolamento” ou “contato” pode revelar, como uma lupa, algumas partículas que constituem o persistente processo genocida e etnocida sobre os povos indígenas. Se assim for, a contínua e conhecida resiliência indígena (o “isolamento”?) ocorreria a partir e seria a comprovação, portanto, do persistente complexo genocida e etnocida.