SOCIOBIODIVERSIDADE, ALIMENTAÇÃO E TRANSMISSÃO INTERGERACIONAL DE CONHECIMENTO NA COMUNIDADE SURUCUÁ, RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS, PARÁ
Conhecimento ecológico. Produtos florestais não madeireiros. Memória biocultural. Teoria bioecológica.
O objetivo deste trabalho foi estudar o processo de transmissão intergeracional do conhecimento acerca do uso de produtos da sociobiodiversidade no consumo alimentar de famílias da comunidade Surucuá, Resex Tapajós-Arapiuns, Santarém, Pará. O Brasil é conhecido mundialmente pela rica biodiversidade e pluralidade de povos tradicionais que utilizam produtos florestais não madeireiros para diversos fins, saberes transmitidos intergeracionalmente. Tendo como referências as categorias teóricas populações tradicionais, transmissão intergeracional de conhecimento e memória biocultural e das categorias analíticas sociobiodiversidade e hábitos alimentares, bem como dos princípios da abordagem bioecológica, a pesquisa empírica foi realizada no período de janeiro a março de 2020. A coleta de dados foi feita por meio de observação direta e entrevistas realizadas com 15% das famílias moradoras da comunidade Surucuá. Os resultados mostram que a relação das famílias com a floresta e com os quintais, evidenciam a sociobiodiversidade como elemento do sistema socioecológico e o extrativismo vegetal como atividade significativa na configuração da comunidade e na reprodução social e de comunicação do CET sobre a biodiversidade entre as gerações, favorecendo a construção da memória biocultural, propiciado pela observação e pela transmissão oral. O conhecimento dos produtos da sociobiodiversidade têm sido transmitidos, sobretudo por meio
da transmissão vertical (90%), o qual é comunicado pelas formas falando e demonstrando (50%), sendo a hora das refeições o principal momento em que isso ocorre. Entre as formas de aquisição, ver e ouvir se destacam, sendo a resposta de 42,5% dos entrevistados. Além disso, foram listadas 24 espécies da biodiversidade local que, mediante estudos de viabilidade, podem ser incluídas na lista e subsidiar a formação de novas cadeias produtivas da sociobiodiversidade.