QUANDO MAIS É MENOS, E MENOS É NADA - O PROBLEMA DO LETRAMENTO E A EDUCAÇÃO ESCOLAR
Educação; Letramento; Letramentos especificados
Este trabalho tem como questão central o problema do letramento, especialmente suas implicações para a educação escolar. Parte do pressuposto que o alargamento conceitual e a expansão indiscriminada da aplicação do conceito produziram uma percepção difusa e instrumental de educação escolar e de formação. A tese que se sustenta nesta pesquisa, a qual, tudo leva a crer, se confirma com os dados reunidos, é a de que o letramento foi incorporado e disseminado no universo acadêmico e pedagógico brasileiro prescindindo da crítica e da inquirição aos termos primitivos, em função de uma oscilação epistemógica das ciências humanas. O que se vem denominando letramento está permeado de concepções de formação e aprendizagem diversificadas que agregam uma gama de sentidos que o fazem do letramento um conceito fluído, inundado por dualidades e nuances vinculadas a concepções funcionais que buscam desenvolver habilidades e competências. Para tanto, tratou-se de primeiramente considerar criticamente os eixos fundantes do conceito conforme vieram se estabelecendo no Brasil a partir da década de 1980 e realizar um levantamento de ocorrências de letramento acompanhadas de especificador, verificando sua inserção teórica e seu campo de correspondências. A análise demonstra que, tal como se apresenta, ampla e confusamente, o conceito de letramento disputa negativamente com o próprio conceito de educação, esvaziando-o. E, embora se apresente como novidade e de caráter progressista, de fato, reproduz os modelos não críticos de educação, ora reforçando a perspectiva instrumental-pragmática, ora repercutindo as teses liberais idealistas. Conclui-se que a vulgarização do letramento e sua aplicação em contextos escolares e não-escolares (muitos dos quais querem negar a importância da educação escolar) não contribui para a educação brasileira.