POPULARIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO SOBRE A DIVERSIDADE DE PEIXES DO TAPAJÓS: PESQUISA & COMUNIC(AÇÃO) PARA ACESSIBILIZAR A COLEÇÃO ICTIOLÓGICA DA UFOPA, PARÁ, BRASIL
ictiofauna; peixes amazônicos; comunicação científica; popularização; ciência no Tapajós.
A coleção científica de peixes da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) reúne cerca de 600 espécies da bacia do rio Tapajós, com aproximadamente 3 mil lotes, entre os quais 7 holótipos e 33 parátipos, provenientes das drenagens da Floresta Nacional do Tapajós e dos rios Arapiuns, Cupari e Tapajós, nos municípios de Aveiro, Belterra, Itaituba, Rurópolis e Santarém. Esse acervo é fundamental para determinar a diversidade e a distribuição geográfica da ictiofauna e para compreender a influência de variáveis ambientais sobre a composição de espécies. Apesar dos avanços alcançados em mais de uma década de pesquisa, o acesso público a essas informações permanece restrito a artigos científicos. Assim, esta tese busca popularizar o conhecimento científico sobre a diversidade de peixes da bacia do rio Tapajós, analisando as funções educativas da comunicação científica e propondo estratégias de acessibilização das pesquisas, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 14 da ONU para conservação da biodiversidade aquática amazônica. O primeiro artigo descreve a transformação da coleção ictiológica em quatro produtos educativos: guia ilustrado, livro para colorir, jogo da memória e caderno de atividades. A partir de entrevistas e consultas públicas, as espécies foram selecionadas e apresentadas em linguagem acessível, demonstrando o potencial das coleções científicas como recursos pedagógicos para Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) e valorização dos saberes locais. O segundo artigo investigou as percepções públicas sobre divulgação científica e ciência cidadã. Foram aplicados questionários a 39 participantes (21–68 anos), com diferentes níveis de escolaridade. Dos respondentes, 69% consomem peixe regularmente, 97% demonstraram interesse em conhecer as espécies locais e 85% nunca haviam usado aplicativos sobre peixes. As espécies mais lembradas foram tambaqui, pirarucu e curimatã, e 67% perceberam redução dos estoques, atribuída principalmente às ações humanas (97%). A maioria considera útil um aplicativo que promova educação ambiental, consumo consciente e conservação (87%), prefere uma interface simplificada (62%) e está disposta a contribuir com informações próprias (87%). Embora 54% desconheçam a Coleção Ictiológica, entre os que a conhecem ela foi descrita como “essencial para a biodiversidade íctica” e “referência regional”. O terceiro produto, um capítulo de livro publicado, revisa a evolução das tecnologias de monitoramento pesqueiro, do registro manual e diários de bordo ao uso de aplicativos móveis, sistemas eletrônicos, sensoriamento remoto e geotecnologias. O capítulo destaca o papel dessas ferramentas na identificação de impactos antropogênicos como sobrepesca e mudanças climáticas e na implementação de estratégias eficazes de manejo e conservação. Ressalta ainda a necessidade de democratizar o acesso às tecnologias e capacitar comunidades ribeirinhas para seu uso, fortalecendo a governança participativa. O quarto capítulo apresenta a aplicação piloto da coleção didático-pedagógica Peixes do Tapajós em dez escolas da rede municipal, sendo uma na várzea e nove na Floresta Nacional do Tapajós, descrevendo as etapas de formação docente, o uso dos materiais em sala de aula e os resultados observados quanto à regionalização do conteúdo e à aproximação entre ciência e território. Em conjunto, os estudos apontam que coleções científicas, produtos didáticos-pedagógicos, ciência cidadã e estratégias de comunicação científica podem atuar de forma complementar para conservar a ictiofauna amazônica, promover educação ambiental inclusiva e reduzir desigualdades de acesso ao conhecimento científico.