A FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO MANIFESTADA NOS PPCs DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA: aquilo que se ensina e o que poderia ser ensinado para uma atuação pedagógica e de caráter omnilateral na educação escolar.
Formação Omnilateral. Educação escolar. Biblioteca escolar. Formação de Bibliotecários.
A presente pesquisa analisa criticamente as proposições formativas voltadas à atuação do bibliotecário na educação escolar, tal como se manifestam nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) das graduações em Biblioteconomia ofertadas por instituições brasileiras. Reconhecendo a formação profissional como prática social historicamente situada, atravessada por determinações políticas, econômicas e ideológicas, parte-se do pressuposto de que os currículos na educação superior expressam o tensionamento entre diferentes projetos formativos: de um lado, a lógica produtivista, instrumental e tecnicista; de outro, a perspectiva da formação omnilateral, comprometida com a emancipação dos sujeitos e com o trabalho educativo. O estudo toma como referência teórica os fundamentos da pedagogia histórico-crítica e a compreensão da biblioteca escolar como espaço de mediação cultural e de apropriação do conhecimento historicamente produzido. De natureza documental, a investigação recorre à análise crítica de PPCs disponíveis em domínio público, abrangendo cursos de bacharelado e licenciatura em Biblioteconomia de instituições públicas e privadas, distribuídas entre as cinco regiões do país. A metodologia organiza-se em dois momentos interdependentes: um primeiro, de caráter descritivoestrutural, dedicado à sistematização das características institucionais e curriculares dos cursos; e um segundo, de natureza analítico-interpretativa, voltado à identificação e problematização das concepções de educação, cultura e trabalho que orientam as proposições formativas relacionadas à biblioteca escolar e ao papel do bibliotecário na escola. Os resultados apontam que, apesar da vigência de marcos regulatórios que instituem formalmente a presença do bibliotecário nas instituições escolares – a exemplo das Leis nº 12.244/2010 e nº 14.837/2024 –, os cursos de Biblioteconomia, em sua maioria, permanecem subordinados à racionalidade técnico-instrumental, que dissocia o trabalho bibliotecário da práxis educativa. As iniciativas que buscam romper com esse paradigma, embora presentes em algumas propostas, carecem de organicidade curricular, densidade teórica e articulação crítica com os fundamentos pedagógicos. Conclui-se que a constituição de um projeto formativo coerente com a atuação do bibliotecário na escola demanda não apenas ajustes pontuais nos conteúdos curriculares, mas inflexão epistemológica no modo de compreender a formação, a fim de reconhecer o bibliotecário como sujeito histórico da educação e a biblioteca escolar como território de formação crítica, mediação cultural e transformação social.