PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS: DO ESTADO DA ARTE AO CONHECIMENTO E MODOS DE USO EM SANTARÉM - PARÁ
Plantas comestíveis; Comercialização, Consumo; Segurança alimentar e nutricional
As plantas alimentícias não convencionais (PANC) são espécies comestíveis, nativas ou
exóticas, que têm ganhado destaque nos debates sobre produção sustentável, alimentação
saudável, segurança alimentar e nutricional e diversificação dos sistemas de produção de
alimentos. Nesse contexto, questiona-se: desde a criação do conceito PANC, quais são as
vertentes de estudos sobre as PANC? Quais PANC fazem parte do cotidiano da população
santarena e de que forma são utilizadas? Para obter essa resposta, foram desenvolvidos
dois artigos para atender os seguintes objetivos. O artigo I buscou identificar quais as
vertentes de estudos sobre as PANC vêm sendo abordadas no meio científico por meio de
uma revisão de escopo desde a criação do termo até o ano de 2023. O artigo II teve como
objetivo identificar o conhecimento e modos de uso das PANC por consumidores das
feiras livres de Santarém – PA. Os resultados encontrados no primeiro artigo apresentam
que o Directory Of Access Journals (DOAJ) foi a base de dados mais frequente; o
principal periódico foi a Revista Brasileira de Tecnologia de Alimentos; a maioria dos
periódicos são Qualis B; a Universidade Federal de Viçosa foi a instituição com maior
número de pesquisas; 2022 foi o ano com maior quantidade de publicações; o principal
enfoque das pesquisas foi nutricional com pesquisas de caracterização da composição
centesimal; e a espécie mais citada foi a Pereskia aculeata Mill, conhecida popularmente
como ora-pro-nóbis. Já no segundo artigo os resultados revelaram que o perfil
socioeconômico consumidores das feiras foi equilibrado entre os gêneros com
predominância de adultos jovens, solteiros, nascidos em Santarém e residentes na zona
urbana, com ensino médio completo e renda de até dois salários mínimos. Verificou-se
conhecimento limitado sobre as PANC, sendo o termo pouco reconhecido e associado
principalmente a informações obtidas em meios digitais e acadêmicos. A aplicação do
Guia de Identificação elaborado pela autora possibilitou o reconhecimento de espécies
como vinagreira, pitanga, taioba, caruru e ora-pro-nóbis, algumas já incorporadas à
alimentação local. A presença dessas plantas nas feiras-livres mostrou-se restrita, e o
cultivo doméstico foi identificado como principal forma de obtenção. Entre as espécies
mais consumidas, destacou-se a vinagreira, utilizada crua em saladas e sucos, refogada,
assada, cozida, além de empregada como tempero e para chás. O caruru ocupou a segunda
posição em consumo, sendo preparado cozido em pratos com peixe e carne, enquanto a
ora-pro-nóbis foi a única planta que teve o compartilhamento de receitas. Os resultados
indicam que o conhecimento e a aceitação das PANC ainda enfrentam barreiras
relacionadas à familiaridade do público, evidenciadas pelo estranhamento e a surpresa
manifestados pelos consumidores ao se depararem com o conceito. Esse fenômeno
ressalta a necessidade de estratégias educativas e de comunicação que ampliem a
compreensão sobre o potencial das plantas alimentícias não convencionais, superando sua
percepção como simples modismo ou tendência no âmbito da alimentação saudável.