EFEITOS DA DEFAUNAÇÃO DE VERTEBRADOS SOBRE A COMUNIDADE DE FUNGOS EM UMA FLORESTA TROPICAL
Diversidade. Fungos. Interações ecológicas. Vertebrados.
A defaunação é caracterizada pela redução ou ausência da fauna nos ecossistemas, ocasionando efeitos diretos e indiretos sobre a dinâmica de outros organismos e processos ecossistêmicos. Em florestas tropicais, a defaunação de vertebrados é a mais estudada. Neste estudo, utilizamos experimentos de exclusão instalados em uma floresta tropical úmida na Amazônia para avaliar se a defaunação causa alterações na comunidade fúngica associada à superfície lenhosa de diferentes espécies de árvores florestais. Nossa hipótese é de que a exclusão destes animais pode limitar a dispersão de esporos ao transportar interna e externamente no corpo do animal devido à redução de atividades ecológicas e micofagia, comprometendo a colonização de novos habitats como a madeira morta. Assim, nossas previsões preveem uma redução na abundância e riqueza, além de alterações na composição fúngica associados a madeira em áreas com defaunação severa quando comparadas a áreas controle. O experimento foi conduzido na Floresta Nacional do Tapajós, onde foram instalados nove blocos experimentais compostos por três parcelas denominadas de 1- Exclusão Severa (ES), na qual foi impossibilitada a entrada de mamíferos de médio e grande porte; 2- Exclusão Intermediária (EI), que impediu o fluxo de mamíferos de grande porte, porém permitiu a passagem de mamíferos de pequeno e médio porte; 3- nenhuma exclusão (NE) utilizada como tratamento controle. Os fungos foram obtidos por meio de esfregaço de Swab estéril e fragmentos retirados das amostras de madeira, compreendendo as espécies de árvores Hymenaea sp. (jatobá), Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F Macbr. (garapa), Lecythis sp. (jarana) e Eucalyptus grandis W. Mill ex Maiden (eucalipto), depositadas sobre a serapilheira da floresta no período de 1 ano e 2 meses. Foram isolados 254 espécimes de fungos filamentosos cultiváveis, pertencentes de forma predominante aos filos Ascomycota (60%), seguido por Mucoromycota (33%) e Mortierellomycota (7%). A abundância fúngica foi maior nas áreas de exclusão severa (p = 0.03), especialmente nas amostras de Hymenaea sp. e Lecythis sp. Entretanto, a riqueza e composição da comunidade fúngica não diferiu entre os tratamentos ou entre as espécies de árvores (p > 0,05 em ambos os casos). A baixa presença de filos como Mucoromycota e Mortierellomycota, e 6 a predominância de Ascomycota refletem um padrão global, mas também podem estar associadas à redução de interações ecológicas pela perda dos vertebrados.