O ENSINO MÉDIO COM MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA – EMMTEC PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO NO VALE DO JAMARI-RO DE 2016 A 2022: DO CINISMO QUALITATIVO À TRÁGICA PRECARIZAÇÃO
Mediação Tecnológica; Educação do Campo; Racionalidade Cínica.
A presente tese investiga as contradições e impactos da implantação e desenvolvimento do Ensino Médio com Mediação Tecnológica (EMMTEC) voltado à Educação do Campo no Território do Vale do Jamari, estado de Rondônia, entre os anos de 2016 e 2022. A problemática central questiona: quais são as contradições e os efeitos sociais, culturais, tecnológicos e econômicos da política do EMMTEC sobre a juventude camponesa nesse território amazônico? O objetivo geral consiste em analisar criticamente como essa política educacional se insere no conjunto das reformas neoliberais no Brasil, operando a desresponsabilização do Estado, a precarização dos processos formativos e a intensificação das desigualdades educacionais. A justificativa da pesquisa fundamenta-se na necessidade de compreender como políticas tecnológicas aplicadas à educação têm contribuído para a invisibilização da Educação do Campo como direito e como projeto político-pedagógico autônomo, em um cenário marcado por assimetrias históricas de poder e território. A relevância da pesquisa reside em sua contribuição para o debate sobre o ensino médio rural na Amazônia, à luz das disputas de classe e do avanço da racionalidade tecnocrática nas políticas públicas. A análise é sustentada teoricamente por autores como Karl Marx (crítica à economia política), Dermeval Saviani (política educacional e materialismo histórico), Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (trabalho e formação), Luiz Carlos de Freitas (avaliação e controle), Janete Maciel (Estado e reprodução do capital), e pesquisadores contemporâneos como Ferrazzo e Gomes (2021), que discutem os vínculos entre EMMTEC e a reforma empresarial da educação no Brasil. Também dialoga com autores como Adrião (2018), Kuenzer (2009), Catini (2018), Shiroma (2003), Oliveira (2003), entre outros. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa adota o materialismo histórico-dialético como abordagem teórico-crítica, articulando análise documental, levantamento bibliográfico e entrevistas com sujeitos envolvidos nos processos de formulação e implementação do EMMTEC no Vale do Jamari. A análise dialética permite compreender como interesses econômicos globais, mediados por organismos multilaterais como o Banco Mundial e a OCDE, reconfiguram políticas públicas locais, produzindo efeitos estruturais sobre os sujeitos do campo. As considerações preliminares apontam que o EMMTEC, embora apresentado como solução inovadora, é expressão de uma racionalidade neoliberal que subordina o direito à educação às exigências do mercado, esvaziando os fundamentos da Educação do Campo como política de justiça social. O programa intensifica a lógica da austeridade, fragiliza o vínculo entre escola e território e contribui para a migração da juventude rural para modelos precários de ensino superior privado. Em vez de superar desigualdades, o EMMTEC tende a reproduzi-las, ao oferecer uma formação tecnicista, descontextualizada e de baixa densidade crítica, voltada à adaptação e não à emancipação dos sujeitos camponeses.