DIMORFISMO SEXUAL, DIETA E SOBREPOSIÇÃO DE NICHO DE DUAS ESPECIES SIMPÁTRICAS DE CECÍLIAS (AMPHIBIA: GYMNOPHIONA), NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Tamanho corporal, Sexo, ecologia trófica, simpatria, coexistência, partição de nicho
O dimorfismo sexual consiste em variações no tamanho do corpo, coloração, além de outros atributos em uma espécie, podendo estar associado a seleção sexual ou ligado às causas ecológicas. Para muitos vertebrados, essas variações intersexuais ainda são desconhecidas, em especial aquelas de hábitos criptozoicos e fossoriais. A ordem Gymnophiona agrupa as cecílias ou cobras-cegas, que são os anfíbios desprovidos de membros locomotores, olhos com função reduzida e de hábitos majoritariamente fossorial, sendo considerados os anfíbios menos conhecidos sobre aspectos de sua história natural e consequentemente, de sua ecologia. O dimorfismo sexual é presente em algumas espécies de cecílias, geralmente sobre o tamanho corporal, quantidade de vertebras e anéis primários ou em alguns casos tamanho da cabeça. Em relação à dieta de Gymnophiona, alguns estudos consideram as espécies predadoras generalistas de invertebrados do solo. Estudar a dieta de uma espécie pode ser útil para entender a sua relação com o ambiente e com as outras espécies que as quais compartilham o mesmo nicho, além disso, a dieta pode ser um fator ecológico responsável por dimorfismo sexual em diferentes espécies de vertebrados. Visando investigar a presença de dimorfismo sexual, a dieta e a existência de sobreposição de nicho de duas espécies simpátricas de cecílias, nós avaliamos 24 fêmeas e 18 machos de Microcaecilia marvaleewakeae e 19 fêmeas e 23 machos de Rhinatrema gilbertogili. Nós utilizamos algumas variáveis morfométricas para análises de dimorfismo, dentre elas o Comprimento total (CT), Comprimento Rostro Cloacal (CRC), Largura da Cabeça (LC), Comprimento da cabeça (CC), Altura da Cabeça (AC), além de largura do corpo e peso. Fêmeas de Rhinatrema gilbertogili apresentaram valores médios superiores aos dos machos em todas as variáveis, o que foi demonstrado na Análise de Variância, onde obtivemos valor significativo indicando que existe dimorfismo sexual para esta espécie (P<0,05). Já em Microcaecilia marvaleewakeae não foram observadas diferenças nos valores médios das variáveis analisadas e a Análise da Variância demonstrou valores não significativos (P>0,05). Os itens mais frequentes na dieta de Microcaecilia marvaleewakeae foram Isoptera (26,67%) e Formicidade (24,44%). Quanto a dieta de Rhinatrema gilbertogili, os dados estão em fase final de identificação e serão incluídos futuramente nas análises. O tamanho das variáveis morfométricas da cabeça diferiam entre as espécies, e aguardamos os resultados de identificação e volume dos itens alimentares de Rhinatrema gilbertogili para verificar se os itens alimentares diferem ou se o tamanho das presas possa ser um fator determinante para partilha de recursos.