Ecologia e conservação de Podocnemis expansa (Testudines, Podocnemididae) no Médio Tapajós, Brasil
Captura por unidade de esforço; Comércio; Conservação da biodiversidade; Consumo; Estrutura populacional; Legislação ambiental; Programa Quelônios da Amazônia; Pirâmide etária; Razão sexual; Sucesso reprodutivo; Tabuleiro do Monte Cristo.
Podocnemis expansa é a maior espécie de quelônio fluvial neotropical e com maior distribuição geográfica, sendo categorizada em baixo risco de extinção e dependente de ações de conservação na lista da IUCN. Nesta Tese, iniciamos uma discussão sobre a relação dos povos tradicionais e a gestão de fauna silvestre no Brasil, como os marcos legais que regem o tema são subutilizados e quais são as perspectivas para o futuro do manejo e conservação dessas espécies. Investigamos a população de P. expansa do Médio Tapajós entre 2013 e 2019, abordando sua ecologia reprodutiva, estrutura populacional, captura, consumo e comércio. Coletamos dados biométricos de 144 fêmeas e de seus respectivos ovos e ninhos. Encontramos uma correlação positiva significativa entre tamanho das fêmeas e ovos, mas não com medidas dos ninhos. O tamanho da fêmea apresentou correlação significativamente positiva com a taxa de eclosão, assim como altura inicial, altura em relação ao nível do rio e substrato com predominância de areia grossa. O nível do rio Tapajós e substrato com predominância de areia fina apresentaram correlação negativa significativa com a taxa de eclosão. Através de capturas experimentais, capturamos 969 indivíduos, com razão sexual de 5,83:1 desviada para machos. A biomassa total obtida nas capturas foi de 4.850,8 kg. A abundância relativa encontrada em 2018 foi de 3,23 ind./ espinhel * hora, e em 2019 foi de 2,88 ind./ espinhel * hora. O tamanho estimado para a população de P. expansa variou entre 296.679 e 319.084 indivíduos e a biomassa estimada variou entre 1.492,1 e 1.604,8 toneladas. Aplicamos 4.404 entrevistas, nas quais registramos 193 capturas, com 658 quelônios capturados, correspondendo a 3.417 kg. A frequência média de captura foi de 6,42 no período de seca e 2,48 no período de cheia. Espinhel e camurim foram as técnicas mais utilizadas, com a maioria das capturas voltada para o consumo. Encontramos alta correlação entre captura e distância percorrida para captura, distância ao tabuleiro de Monte Cristo e a cota mensal do rio Tapajós. O consumo de P. expansa e P. unifilis diferiu entre as zonas urbana e rural. Os valores comercializados de P. expansa e P. unifilis e seus ovos foram maiores na zona urbana que na rural. Concluímos ser necessário monitorar continuamente a reprodução de P. expansa e sua dinâmica populacional, e que o manejo sustentável comunitário pode ser uma alternativa viável para conservação, segurança alimentar e geração de renda.