NUM TEMPO DO ERA, FOI O PRINCIPEZINHO DESENCANTADO:
O DESENVOLVIMENTO DA IMAGINAÇÃO POR MEIO DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Imaginação; Contação de Histórias; Educação Infantil, Teoria Histórico-Cultural.
Este trabalho apresenta uma pesquisa teórica acerca da imaginação produzida pela narração de histórias no âmbito da Educação Infantil (EI), e objetiva analisar o desenvolvimento da imaginação da criança de até 6 anos numa perspectiva Histórico-Cultural (THC). Para tanto, busca situar o lócus das situações narrativas nos postulados da imaginação desenvolvidos pela THC; compreender o modo como as atividades que guiam o desenvolvimento da criança se relacionam com a contação de histórias; verificar as concepções de imaginação e contação de histórias presentes nas pesquisas educacionais brasileiras; discutir o papel do professor, bem como as condições concretas envolvendo atividades narrativas na EI. A metodologia de trabalho é embasada no princípio fundamental do Materialismo Histórico-Dialético, que alicerça a Teoria Histórico-Cultural e indica o fator da necessidade real e concreta em torno da apreensão racional do objeto em sua dinâmica social, reproduzida em sistemas de pensamento que partem sempre das relações mais gerais ao encontro das mais específicas. A exposição dos argumentos ocorre na forma de movimentação dialógica que parte do estudo da THC ao encontro das produções editoriais e pesquisas acadêmicas nacionais, para em seguida discutir suas implicações na EI, de acordo com a estrutura que segue: 1º Movimento, apresenta uma síntese da epistemologia base, evidenciando o objeto de estudo, sua função real e fantástica, a forma como a teoria vigotskiana compreende a narração de histórias nos processos de imaginação e criação, e o modo como esta abordagem pode ser alavancada nas diferentes situações sociais de desenvolvimento em relação às atividades que guiam a formação da personalidade infantil, possibilitando à criança estruturar e organizar seus pensamentos e emoções por meio da fantasia. 2º Movimento, o trabalho volta-se ao levantamento de publicações do mercado editorial brasileiro e pesquisas educacionais realizadas entre os anos 2000-2018, quando as práticas pedagógicas envolvendo a contação de histórias ampliam fortemente seu espaço nas discussões e produções acadêmicas. A investigação visa compreender o dinamismo das concepções em torno do objeto, suas tendências dominantes e repercussão em âmbito educacional. O 3º Movimento focaliza os (des)encantos de professorar e narrar e debate o papel do professor/contador de histórias na EI, a relação entre a imaginação do adulto e da criança, a influência da formação intelectual para o enriquecimento da imaginação do professor, bem como a emergência de formas de planejamento pedagógico que intencionem possibilidades máximas de desenvolvimento imaginativo por meio da narração de histórias na EI. Trata-se de uma síntese crítica em que o argumento estará mesclado a algumas situações vivenciais do pesquisador como professor contador de histórias em contextos educacionais de base. Por fim, o 4º Movimento focaliza os desafios curriculares e o processo de “desencantamento” social como condição para amplo desenvolvimento da imaginação humana; desenvolve ainda uma reflexão sobre a relevância dos sentimentos negativos e a necessidade de professores e crianças os enfrentarem, esteticamente, visando superar os perigos da imaginação nociva que oprime e deforma a personalidade. Além do exposto, embora reconheça-se a necessidade de qualificar as composições curriculares com experiências de primeira grandeza, admite-se que a mera mudança de posturas profissionais, formas de planejamento, conteúdos e metodologias, por si só, é insuficiente para o enfrentamento das desigualdades sociais – os verdadeiros entraves que interditam o pleno acesso ao patrimônio da cultura universal apontado pela teoria estudada como indispensável ao processo de humanização e máximo desenvolvimento da imaginação.