Esta dissertação investiga as vozes líricas libertárias construídas a partir de abordagens conceituais femininas e feministas afroamazônidas sobre a escrita de si, através de noções de afeto. Para tanto, fundamenta-se em teóricos como Grada Kilomba (2019), Conceição Evaristo (2020), Lélia González (2020), Adilbênia Hilário (2019), bell hooks (2022), Octavio Paz (2010), Massaud Moisés (2023), Antonio Candido (2006), Edimilson Pereira (2022), Heleine Sousa (2020), entre outros. O estudo examina o lirismo libertário feminino presente na multiarte e na poesia divulgadas no Instagram, explorando os diálogos entre arte e literatura contemporâneas. As análises concentram-se em produções selecionadas com base no número de curtidas no feed de duas artistas afroamazônidas: Kerolayne Kemblin, conhecida como @dacordobarro, e Roberta Tavares, conhecida como @robertaraizes. Kerolayne, multiartista independente de Manaus-AM, utiliza materiais da fauna, flora amazônica e elementos da religiosidade afro-brasileira em suas obras, que denominamos de "instamultiarte libertária", marcadas por um eu-lírico-feminino-instagramado. Roberta, poetriz e quilombola do Quilombo Cravo, em Belém-PA, produz uma "instapoesia" que exalta ancestralidade, resistências e empoderamento, compondo um eu-lírico-libertário. Ambas visam, através de suas expressões, construir uma idealização coletiva do "nós" político e social. A dissertação também analisa a "lírica libertária instagramada" sob duas perspectivas: a instacorrespondência, que revela pontos comuns entre as artistas, e as práticas instainovadoras, que exploram as relações entre instamultiarte, instapoesia e o ensino, em especial para o ENEM e o Ensino Médio. Por fim, destaca-se como essas artistas potencializam no Instagram a luta contra discriminações, a desconstrução de estereótipos e a afirmação de suas histórias, conectando-se com seguidores que gentilmente compartilham suas postagens.

Esta pesquisa, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Oeste do Pará (PPGL-Ufopa), insere-se na área da Linguística e nas subáreas de Linguística Textual, bem como vincula-se ao tema das operações referenciais e enunciativas em Narrativas da Amazônia Paraense. Partindo disso, o objeto de análise é o fenômeno da Dêixis no cordel amazônico “O Chapéu do Boto” (edição de 2007), do cordelista paraense Antônio Juraci Siqueira. O problema que norteia esta investigação é “Como os elementos dêiticos no cordel ‘O Chapéu do Boto’ contribuem para a referenciação e para a ancoragem enunciativa do contador, do leitor, do espaço e do tempo na narrativa?”. Como justificativa, a investigação busca aprofundar a reflexão sobre a identidade regional paraense, preenchendo lacunas sobre operações dêiticas na obra de Siqueira, além de analisar processos linguísticos específicos da Amazônia, como a ancoragem enunciativa via dêixis, que situam o leitor no universo narrativo e resgatam a memória coletiva. O objetivo geral da pesquisa é: analisar o papel dos elementos dêiticos na referenciação no cordel “O Chapéu do Boto”, investigando como as marcações dêiticas contribuem para a construção dos objetos de discurso e para a ancoragem enunciativa que articula o contador, o leitor, o espaço e o tempo na narrativa. Os objetivos específicos são: 1. Observar os aspectos temáticos e estruturais do gênero cordel na narrativa analisada; 2. Identificar os objetos de discurso que são instituídos e retomados no cordel “O Chapéu do Boto”; 3. Especificar os tipos de referentes em Dêixis no cordel em análise; 4. Analisar o papel das marcações dêiticas na “ostensão” e na “subjetividade”, como a referenciação, a ancoragem do contador, leitor, espaço e tempo, bem como demais aspectos encontrados. Quanto aos métodos e técnicas, a pesquisa é quali-quantitativa e interpretativa, utilizando métodos descritivos e bibliográficos. A coleta de dados envolveu técnicas da Revisão Sistemática da Literatura e a análise de conteúdo de Bardin (2011), focando nas operações referenciais presentes no texto "O Chapéu do Boto". Entre os resultados, tem-se que: 1. Quanto à estrutura do cordel, com sua alternância entre setilhas, sextilhas e rimas (brancas, toantes, consoantes), aliada às ilustrações de Waldir Lisboa, reforça a oralidade característica do gênero. Os dêiticos, nesse contexto, atuam como elos que garantem fluência narrativa e imersão, permitindo que a história transite entre o real e o fantástico sem perder sua raiz cultural.; 2. Em relação à ancoragem enunciativa, observou-se que os dêiticos pessoais, como “rogo atenção” e “Vovó contou-me”, aliados aos verbos imperativos “Conte um conto” e “Abra as porteiras”, estabelecem um diálogo direto entre o contador e o leitor. Essa estratégia não apenas convida o público a assumir o papel de coautor da narrativa, mas também garante sua perpetuação como um ato de resistência cultural, em que a oralidade se mantém viva através da reinscrição contínua da história; 3. Quanto aos dêiticos de marcação espaço e tempo, a exemplo dos advérbios “lá” e “ali”, bem como a locução “às margens do Cajary”, situam a trama em um contexto geográfico reconhecível, reforçando a autenticidade do imaginário amazônico. Esses marcadores não apenas delimitam o cenário físico, mas também aproximam o leitor da vivência regional, criando uma sensação de proximidade com o universo narrativo; 4. A memória coletiva emerge como eixo central por meio da expressão “nossa mitologia”, que opera como uma dêixis identitária. Essa construção linguística vincula contador e ouvinte a um repertório cultural compartilhado, no qual a figura do Boto transcende o mito individual para encarnar conflitos éticos e sociais da região, como a relação entre humanos e natureza, além de questões de gênero e poder.

Esta pesquisa investigou teve como objetivo identificar as tendências da produção editorial dos livros para criança, no que diz respeito à literatura, à ilustração, ao projeto gráfico, aos elementos estéticos e aos aspectos históricos, culturais e políticos, por meio dos livros infantis com o selo “Altamente Recomendável” do Prêmio Anual da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), nos anos 2020, 2021 e 2022. Enquanto estratégia investigativa utilizou-se a Pesquisa Bibliográfica, associada à Análise Documental. O embasamento teórico se deu referente aos conceitos de Livro, Leitura, Literatura, Literatura infantil, Estética, Leitura, Criança e Infância e os procedimentos de análise ocorreram em documentos, como: regulamentos, listas de resultados, reportagens antigas, entrevistas, livros, estatuto e relatórios de pesquisas. A coleta de dados dos livros analisados se deu por meio do Instrumento de Registros para Análise dos Livros para crianças (de própria autoria). A partir dos resultados obtidos, identificou-se investimento tecnológico que proporciona a diversidade estrutural nos projetos gráficos,  a presença tanto da linguagem escrita, quanto da linguagem visual, a complexidade na leitura destes livros, o uso da palavra literatura como mera finalidade comercial, a influência da FNLIJ nas listas de livros das políticas públicas de compra e distribuição do Ministério da Educação (MEC) e na indústria editorial de livros infantis brasileira, a composição geográfica dos leitores - votantes da FNLIJ com pouca representatividade de especialistas da Amazônia, a pouca presença da Literatura Infantil enquanto campo de estudo nos cursos de licenciatura em Letras. Desta forma, a pesquisa sugere a luta pela garantia de direito ao acesso e à leitura dos livros com selo “Altamente Recomendável”, além dos premiados, à todas as escolas públicas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, a criação de disciplinas do campo de estudo Literatura Infantil e maior representatividade de leitores-votantes de outras regiões do país.

RESUMO 

Esta pesquisa tem como interesse principal o atual cenário do ensino de surdos em escolas do ensino básico da zona urbana de Santarém - Pará, envolvendo a Língua Brasileira de Sinais – Libras – e a Língua Portuguesa, em modalidade escrita. Verificamos, por meio de relatos de pessoas surdas, como foram suas trajetórias educacionais. Por meio desses relatos encontramos respostas para nossa principal indagação: As metodologias utilizadas no ensino de surdos em Santarém-PA contemplam a utilização da Libras na promoção de um espaço bilíngue e inclusivo? Identificamos como esses ambientes dispõem de recursos que possam favorecer o ensino bilíngue (Libras/ Língua Portuguesa). Os dados da pesquisa foram gerados através de entrevistas semiestruturadas com surdos egressos do ensino básico, para que eles pudessem expressar, por meio de sua língua, as experiências que tiveram em suas trajetórias de formação. Os relatos de experiência estão relacionados a seis surdos egressos, usuários da Libras, com idade entre 29 e 35 anos. Os surdos egressos relataram suas opiniões acerca do ensino que receberam, e assim fizemos a recolha e análise desses relatos que se desdobraram nos resultados dessa pesquisa. Como falaremos de uma língua, nos sentimos motivados a investigar seus aspectos em situações reais de uso através de seus falantes. Para dialogar teoricamente com esse trabalho, citamos importantes obras de autores como Quadros & Karnopp (2004), Gesser (2009), Ferreira (2010), Quadros (2019), entre outros. O desfecho dessa pesquisa confirmou o fato de que a Libras não foi utilizada no processo de ensino e aprendizagem dos entrevistados durante o ensino básico. Os resultados mostraram que embora estivessem incluídos, estavam passando por situações de indiferença e desigualdade em relação aos alunos ouvintes, o que nos leva a pensar acerca da extrema importância da acessibilidade linguística e metodológica para a educação de surdos. Esperamos contribuir para a ampliação e reflexão dos debates acerca da necessidade de expansão e oferta do ensino bilíngue na cidade de Santarém. 

Este trabalho propõe fazer uma reflexão sobre a obra de escritora norte-americana Shirley Jackson (1916 – 1965), tendo como foco de estudo e análise o romance The Haunting of Hill House (1959). Nosso objetivo é compreender como a literatura de Jackson configura questões de gênero em voga na sociedade estadunidense dos anos 1950, década da publicação do livro. Para isso, buscamos identificar e examinar as temáticas relativas ao feminino figuradas no romance, com base em uma análise conjunta entre as estruturas narrativas do texto e as suas condições de produção.

Esse trabalho tem como principal objetivo investigar como as relações de gênero e de classe
(presentes especificamente no âmbito da Inglaterra rural) do século XIX se manifestam no
enredo e na construção das personagens do romance Tess of the d’Urbervilles (1891), de
Thomas Hardy, influenciando diretamente em sua forma. Para tanto, apresentamos
brevemente o contexto sócio-histórico dessa parcela da sociedade ao longo da Era Vitoriana e
o tomamos como uma das principais condições de produção do autor na criação do universo
fictício de Wessex. No primeiro capítulo, concentrando-nos em uma análise de classe,
concluímos, por meio das relações sociais estabelecidas e das condições de trabalho a que a
protagonista Tess é submetida, que o trabalho, de acordo com características que apresenta,
pode ser uma ferramenta de dignificação ou de degradação da personagem principal Tess,
influenciando diretamente o ambiente ocupado por ela. Essas condições de trabalho
frequentemente alinham-se com seu estado de espírito, sendo, muitas vezes, também uma
materialização externa de seus sentimentos e angústias pessoais. No segundo capítulo,
voltamo-nos para a influência das relações interpessoais estabelecidas entre Tess e os dois
antagonistas, Angel Clare e Alec d’Urberville. Se, a priori, ela se vê limitada por suas
alternativas como trabalhadora rural, é em seus relacionamentos que a opressão de gênero se
evidencia. Juntas, a moralidade religiosa e as convenções sociais rígidas da sociedade
patriarcal, personificada no romance pelos pares masculinos de Tess, a condenam ao
sofrimento e a uma vida de julgamentos, ocasionando sua ruína social e levando-a a tomar
atitudes extremas em busca de libertação. Em suma, a verossimilhança da obra em relação ao
seu contexto de produção evidencia a interferência do elemento sócio-histórico da época em
sua composição

Esta pesquisa tem como objetivo identificar e analisar as formas de subalternidades produzidas na sociedade colonizada e de que maneira elas se apresentam como elementos estéticos que constituem e estruturam o conto A caligrafia de Deus, do escritor amazonense Márcio Souza. O estudo se baseia no pressuposto de que a subalternidade pode se manifestar em diversas configurações, desde aspectos físicos a discursos, e que tais situações estão presentes ao longo da narrativa, compondo a trama e os personagens. Partindo de tal premissa, apresentamos a análise a partir do conceito pós-colonial de subalternidade, proposto por Gayatri Spivak (2010), expandido a ideia de subalternização e entendendo-a como todas as formas de consolidar uma dominação sobre os grupos colonizados e suas culturas. Sendo assim, discutimos o processo colonial como causa para a subalternização, além de explorar a hierarquia que se configura nos grupos subalternizados, cujos critérios estão pautados, principalmente, na desigualdade de gênero. Como arcabouço para a pesquisa, fundamentamo-nos nos estudos de Antonio Candido (2006) sobre a dialética entre literatura e sociedade, em que elucida acerca do fator externo se tornar interno à obra. No argumento teórico, para falar de subalternidade, recorremos à Gayatri Spivak (2010) e Antonio Gramsci (2007); o sociólogo Aníbal Quijano (2005) fundamenta os estudos sobre colonialidade, complementado por Frantz Fanon (2008; 2022) e Aimé Césaire (2020) que abordam a violência da colonização; Homi K. Bhabha (2013) e Stuart Hall (2013; 2022) são os norteadores para tratar a questão da identidade e cultura no pós-colonialismo. Sobre o feminino, temos como base bell hooks (2022), Gerda Lerner (2019) e Silvia Federici (2023), que discutem o lugar de fala das mulheres na sociedade patriarcal, além de Eliane Potiguara (2018), que dá voz às condições da mulher enquanto indígena. Ao fim desta dissertação, concluímos que o conto de Márcio Souza se constitui em toda sua estrutura narrativa com características da imposição racial e desigualdade de gênero, com personagens reificadas e discursos naturalizados pelo colonialismo.

O objetivo principal desta pesquisa é analisar o conjunto de narrativas de tradição oral da Comunidade Remanescente do Quilombo Peafú, localizado no município de Monte Alegre/PA, com enfoque em suas especificidades sociocultural, estético, poético, político, religioso e discursivo. Assim, considerando o posicionamento analítico e metodológico de Cândido (2006), no qual o fator externo (história e cultura do território quilombola) participa da organização e estruturação das narrativas nas dimensões estéticas desses textos, bem como seus diálogos com a história social, com a formação do território, com a identidade e a resistência quilombola. Dessa maneira, o trabalho está organizado em quatro capítulos: o primeiro capítulo apresenta os processos de construção do objeto de pesquisa e seus desdobramentos no tocante à prática pedagógica na Educação Básica, razão primordial a qual motivou a investigação de outras possibilidades de literatura no cerne da memória coletiva do quilombo montealegrense de Peafú. O segundo capítulo, com base em Hampâté-Bá (2010), Moura (2010), Bispo (2015), Funes (2022), Carvalho e Pires (2021), Maia (2012), Carvalho e Vaz Filho (2023), sistematizo a importância da “Tradição viva” representada na figura das mais velhas e mais velhos - contadoras e contadores de histórias do quilombo, com ênfase na função social dos narradores, nas características gerais da narrativa oral e nas categorias e tipologias que a crítica tem utilizado para tratar a narrativa quilombola. O terceiro capítulo traço um panorama geral sobre perfil das contadoras e contadores de histórias entrevistados durante o trabalho de campo: quem são, o que fazem, sua relação com o território e também com as narrativas orais coletadas. E por fim, o quarto capítulo dedicado à análise das narrativas orais, apresento um repertório literário de trinta e cinco histórias ouvidas, registradas e transcritas contadas por sete narradoras e narradores quilombolas (quatro mulheres e três homens). Nestas histórias, analiso os elementos estruturais: narrador, organização fabular, personagem, espacialidade, temporalidade, e ainda, demonstro como o elemento social - território quilombola (com suas simbologias, éticas, linguagens, temáticas, culturas, identidades) são parte integrante do sentido estético.  Para esse trabalho de análise estética, agrupei por temática e por organização estrutural os textos estudados e os distribui nas seguintes tipologias de narrativas do quilombo: Histórias de Conhecimentos Tradicionais; Histórias de Mistérios, Encantados e Visagens; Histórias de Teimosia; Histórias Religiosas. Em síntese, as narrativas analisadas que pertencem a cada tipologia materializam a historicidade, os valores religiosos e espirituais, a territorialidade e as identidades culturais da memória coletiva e, ao mesmo tempo, assumem a função determinante entre o fator social e a composição estética dos textos. O contexto social, isto é, a realidade quilombola e todos os elementos que compõem a vida social no território são partes integrantes e funcionais do sentido estético das narrativas. 

Esta dissertação propõe uma análise da poesia de Olga Savary em sua obra "Magma", focalizando o uso do erotismo como uma forma de resistência às estruturas patriarcais dentro da crítica literária feminista. A pesquisa tem como objetivo principal analisar o erotismo na obra poética "Magma" como um mecanismo de subversão das normas patriarcais, promovendo uma linguagem poética que desafia convenções sociais e afirma a autonomia e o empoderamento feminino. Para alcançar este objetivo, o trabalho examina a construção poética do corpo e do desejo erótico na obra, identificando-os como instrumentos de empoderamento feminino. Através da análise detalhada dos poemas, busca-se compreender como Savary utiliza a linguagem subversiva para desconstruir as narrativas patriarcais e promover uma visão mais emancipatória do corpo feminino e do desejo.  Além disso, este estudo contextualiza "Magma" dentro do movimento feminista, situando a obra no panorama histórico e social em que foi produzida. A partir dessa contextualização, será possível entender melhor as influências e os impactos da poesia de Olga Savary no cenário literário brasileiro e nas discussões sobre gênero e sexualidade.  A pergunta que orienta esta pesquisa é: "Como a obra 'Magma', de Olga Savary, utiliza o erotismo como um mecanismo de subversão das normas patriarcais, promovendo uma linguagem poética que desafia convenções sociais e afirma a autonomia e o empoderamento feminino?" A resposta a essa questão será buscada através da análise crítica dos poemas selecionados, contribuindo para a compreensão da relevância da obra na luta pela igualdade de gênero.