Ictioplâncton do rio Tapajós, Pará, Brasil: Identificação por DNA metabarcoding e aspectos ecológicos
Dinâmica reprodutiva, genética, ictioplâncton, peixes neotropicais, sítios de desova.
A heterogeneidade espacial e dinâmica sazonal das águas nos rios amazônicos sustentam uma alta diversidade ictiofaunística na região, com muitas espécies exploradas pela pesca artesanal. No entanto, a totalidade da riqueza de espécies de peixes não é plenamente conhecida, pois muitos habitats não foram adequadamente amostrados e, em outros, várias espécies ainda estão sendo descritas. A drenagem do rio Tapajós apresenta mais de 900 espécies de peixes registradas, mas pouco se conhece sobre os primeiros estágios de desenvolvimento (ovos e larvas) dos peixes, o que torna a identificação taxonômica extremamente desafiadora, principalmente para os ovos que não possuem características morfológicas específicas. Dessa forma, a técnica de DNA metabarcoding pode auxiliar na identificação desses organismos, contribuir para determinação dos locais e épocas de desova, além de entender a dinâmica reprodutiva das espécies. Foram coletados 2.891 indivíduos do ictioplâncton (2.063 larvas e 828 ovos), com rede de plâncton, por meio de arrastos horizontais na subsuperfície da coluna d’água em áreas abertas no canal rio Tapajós, Pará. Para a identificação do material biológico utilizou-se a abordagem de metabarcodificação COI. Do total capturado, 2037 ASVs foram geradas e apenas 876 identificadas a nível de gênero e espécie, correspondendo a sete ordens, 20 famílias, 13 gêneros e 60 espécies. Dessas, mais de 90% são de interesse econômico para pesca, aquariofilia e/ou aquicultura na região. O período de águas altas teve maior riqueza de espécies (n= 41 spp.), quando comparada ao período de águas baixas (n= 29 spp.). A maior frequência de ovos foi registrada durante o período de águas altas (cheia) próximo as comunidades de Apacê e Barreiras, diferentemente as larvas foram registradas em todos os locais amostrados. Grande parte das espécies (n=39) identificadas tem comportamento migratório de média e longa distância, e possuem desova total, sem cuidado parental. Assim, é possível inferir que o DNA metabarcoding foi eficiente em identificar ovos e larvas de inúmeras espécies de peixes da região do rio Tapajós, mas ressalta-se a necessidade de abastecimento do Genbank para aprimorar os resultados. No futuro a construção de banco de dados mais robusto, especialmente para a ictiofauna amazônica, poderá tornar a metodologia mais efetiva na identificação do ictioplâncton, bem como auxiliar na conservação e gestão dos recursos pesqueiros.