A AÇÃO POLÍTICO-EDUCATIVA DAS FREIRAS FRANCISCANAS EM JURUTI-PA (1970 – 1992)
Políticas sociais; Política partidária; Educação Infantil; Educação popular; Violência política.
A pesquisa trata da ação político-educativa desenvolvida pelas freiras franciscanas de Maristella, no município de Juruti, tendo como recorte histórico o período de 1970 a 1992. Vindas do Nordeste brasileiro e do Sul da Alemanha, chegaram a Juruti com a intenção de melhorar a caótica situação de educação e saúde. Com formação profissional em Pedagogia, Saúde e Assistência Social, elas logo perceberam que, além da miséria e analfabetismo da população, teriam de enfrentar a oligarquia política que se mostrava indiferente diante dos graves problemas sociais. Como não daria para modificar aquela situação de forma imediata, elas elaboraram, com os padres, um planejamento estratégico desafiador. Em curto prazo, desenvolveriam as atividades educacionais, de saúde e de assistência social; em longo prazo, promoveram a educação política aos envolvidos nas ações, através de cursos de formação de lideranças populares, com o objetivo de contrapor-se à elite política, objetivando a democratização dos recursos públicos de maneira que fossem usados em prol da maioria da população. Podemos inferir que estava presente, mesmo de forma indireta, o que encontramos nos escritos de Marx (2013), Gramsci (1999), Lukács (2010) e Saviani (1999), qual seja: a luta pela melhoria social articulada com o direito à educação de boa qualidade e à valorização da ciência, assim como a compreensão crítica da história. Dessa forma, assumiram a principal escola do município, o atendimento à saúde, iniciaram as construções de casas populares através de regime de mutirão, consolidaram o artesanato e firmaram um convênio com a extinta Legião Brasileira de Assistência (LBA) para a construção e manutenção de creches e de pré-escolas na zona urbana e na rural do município, com atendimento de alta qualidade na parte pedagógica e nutricional da criança, algo inédito na região até então. O serviço educacional e social, e religioso através das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), espalhou-se pelo município e, aos poucos, produziu lideranças que fortaleceram o sindicato dos trabalhadores rurais. Essas lideranças fundaram o partido político que começou a incomodar os ricos que se revezavam no poder. Os membros do sindicato conseguiram, a partir dos anos de 1980, eleger vereadores e regularizar terras dos pequenos lavradores que antes pertenciam aos latifundiários, e isso atiçou a ira dos mandatários do município que se contrapuseram aos padres e às freiras acusando-os de comunistas e ameaçando-os de morte. O medo de uma tragédia fez com que as franciscanas encerrassem as atividades na sede do município em 1992. Dessa forma, a pesquisa busca responder como um projeto baseado na educação infantil, no atendimento à saúde, na construção de casas populares, na geração de renda através de artesanato e nos preceitos religiosos conseguiu contribuir para a formação política de pequenos lavradores ao ponto de influenciarem nos rumos políticos do município de Juruti? O objetivo foi analisar os serviços sociais, de saúde e educacionais desenvolvidos pelas freiras franciscanas em Juruti (1970-1992) em consonância com a organização política dos pequenos lavradores. A metodologia teve por base o materialismo histórico-dialético. As fontes consultadas para a análise foram: Paróquia Católica de Juruti, Sindicato dos Trabalhadores(as) Rurais de Juruti, Associação dos Artesãos de Juruti e Associação Amiga das Crianças e Adolescentes de Juruti.