SUSTENTABILIDADE NA CADEIA DE VALOR DO AÇAÍ: PERSPECTIVAS PARA A COMUNIDADE QUILOMBO DO MURUMURU, SANTARÉM/PA
Consumo, Bioeconomia, Comunidades Tradicionais, Subsistência, Estratégias, Potencialidades, Fortalecimento.
O consumo da polpa de açaí (Euterpe oleracea Mart.) tem crescido exponencialmente, consolidando-se como um dos pilares da bioeconomia amazônica, expandindo-se nos mercados nacional e internacional. Tradicionalmente, o açaí é um alimento básico para comunidades tradicionais amazônicas, no entanto, o aumento na demanda global tem gerado pressões socioeconômicas e ecológicas, alterando as dinâmicas locais de produção e comercialização. Na comunidade quilombola de Murumuru a extração de açaí constitui a principal atividade econômica e em decorrência disso tem-se observado mudanças na dinâmica produtiva e socioambiental na comunidade. O objetivo na tese foi analisar o processo agroextrativista em uma área de várzea e mapear a cadeia de valor do açaí na Comunidade Quilombola de Murumuru. No Capítulo 1, foram analisados aproximadamente 70 artigos científicos que analisaram a atual dinâmica do açaí frente à nova demanda do mercado nacional e mundial, seus benefícios à saúde humana e as consequências para as populações tradicionais na Amazônia, a exemplo da Comunidade Quilombola de Murumuru frente à dinâmica da bioeconomia local e da construção da cadeia de valor do açaí produzido pela comunidade. O Capítulo 2 apresentou os desafios enfrentados pelos quilombolas, relacionados ao compartilhamento de tecnologias a partir de experiências desenvolvidas no Bioma Amazônia e Cerrado, que foram levadas pelo projeto Inovatec aos comunitários no Murumuru. O Capítulo 3 buscou compreender as dimensões econômicas, sociais e relacionadas à governança da colheita do açaí, orientadas por questões que foram: os meios de subsistência locais, os riscos percebidos, os padrões de comercialização, as pressões externas, as demandas tecnológicas e organização comunitária do Quilombo Murumuru. No Capítulo 4 fez uma análise dos desafios e das potencialidades do extrativismo do açaí no Quilombo Murumuru, com foco nas condições socioambientais, nas práticas tradicionais de manejo e na aplicabilidade local de inovações tecnológicas para o fortalecimento da cadeia de valor do açaí em territórios de várzea. Os resultados revelam que 66,7% dependem de intermediários, 22,2% relatam conhecimento limitado das práticas de gerenciamento e 77,8% estão preocupados com os riscos relacionados à colheita (principalmente quedas). Os conflitos sobre o acesso aos bosques foram citados por 44,4%, principalmente devido à extração não autorizada. Apesar desses problemas, 61,1% expressaram interesse em tecnologias sustentáveis e soluções baseadas na comunidade. Identificou três grupos principais de famílias, variando de altamente vulneráveis a mais bem estruturadas, reforçando a heterogeneidade interna moldada pela infraestrutura, autonomia e acesso ao mercado. O estudo destaca a necessidade de parcerias institucionais que apoiem a diversificação da renda, valorizem o conhecimento tradicional e melhorem as condições de trabalho. O fortalecimento da cadeia de valor do açaí nativo nas regiões de várzea é essencial para reduzir a vulnerabilidade socioeconômica e promover uma bioeconomia regenerativa e centrada na comunidade na Amazônia.