Crenças parentais sobre o uso de plantas medicinais no cuidado com as crianças
Amazônia; Etnofarmacologia; Etnobotânica; Saúde infantil; Saúde familiar.
O uso de plantas medicinais acompanha o desenvolvimento da humanidade desde a antiguidade até os dias atuais, como um recurso da medicina alternativa adotado por grande parte da população mundial. Essa prática de saúde pode ser influenciada por inúmeros fatores, como política, cultura e religião, sendo mediada por crenças, atitudes e conhecimentos. Este estudo analisou as crenças parentais sobre a eficácia das plantas medicinais e suas implicações nos cuidados infantis, especialmente em relação à medicalização e às práticas de cuidado à criança. De modo geral, as crenças referem-se aos julgamentos subjetivos de uma pessoa em relação a aspectos de seu mundo. Nesta pesquisa, baseamo-nos em um modelo de processamento de informações apresentado por Fishbein e Ajzen (1975). Para a coleta de dados utilizamos como instrumentos: (a) um questionário sociodemográfico abordando variáveis como gênero, idade, raça, escolaridade, religiosidade, estado civil e faixa salarial; (b) um questionário semiestruturado sobre a relação dos pais com as plantas medicinais e suas práticas de cuidado em relação à saúde dos seus filhos. Os resultados encontrados de caráter quantitativo foram analisados por meio de testes estatísticos descritivos para compreender padrões, relações e tendências entre as respostas adquiridas. Os resultados de cunho qualitativo foram analisados por meio do Discurso do Sujeito Coletivo, uma estratégia metodológica de análise advinda da teoria das representações sociais, utilizada para entender a percepção e interpretação dos indivíduos acerca do mundo ao seu redor por meio das próprias falas, as quais são categorizadas em um discurso que representa os sujeitos investigados coletivamente. Além disso, utilizamos o diário de campo como registro de observações sobre a pesquisa, auxiliando na reflexão e avaliação do processo de investigação, bem como permitindo um melhor entendimento do fenômeno pesquisado. Como resultados, os dados indicam que 78,18% dos participantes relataram uso de plantas medicinais na infância, com 46,55% afirmando que os cuidados eram realizados principalmente com remédios caseiros transmitidos por mães e avós, como reflexo de saberes tradicionais em contextos de acesso limitado à saúde formal. Embora 32,87% tenham aprendido diretamente com os pais e 19,17% com os avós, 20,54% não receberam esse ensino, sugerindo descontinuidade no conhecimento. Os dados ressaltam que muitos pais ainda acreditam na eficácia das plantas no cuidado infantil, com 22,05% mencionando o uso de remédios caseiros, como chás e xaropes naturais. Essa escolha demonstra confiança nos saberes tradicionais. No entanto, a maioria recorre primeiro a remédios industrializados (25%) ou atendimento médico (23,52%), o que indica uma tendência à combinação entre práticas populares e medicina convencional. Assim, embora valorizadas, as plantas não são a principal escolha para a maioria dos pais diante de sinais de doença nos filhos. A estrutura familiar e a rede de apoio influenciaram a transmissão desses saberes, que, apesar da valorização cultural, enfrentam riscos de esquecimento, agravados pelo acesso a informações digitais não confiáveis. Isso ressalta a necessidade de estratégias educativas que integrem práticas tradicionais e evidências científicas para o uso seguro das plantas medicinais.