TECIDOS DE TUCUMÃZEIROS E GENTES: INTERAÇÕES E MUDANÇAS
NA PRODUÇÃO DOS TRANÇADOS DO ARAPIUNS
Artesanato tradicional. Astrocaryum vulgare. Organização social.
Palmeiras. Uso de recursos naturais.
As folhas recém-formadas do tucumãzeiro (Astrocaryum vulgare Mart.), chamadas localmente de guias, são matéria-prima para a produção de objetos utilitários, produzidos há gerações, na região do rio Arapiuns, município de Santarém. Esta tese se concentrou em analisar mudanças na produção do artesanato, atualmente conhecido como Trançados
do Arapiuns, e seus desdobramentos nos saberes e práticas relativos aos tucumãzeiros e na paisagem de comunidades do rio Arapiuns. Foram analisados documentos e utilizadas entrevistas semiestruturadas e observação participante com pesquisadoras, técnicas, lideranças comunitárias, artesãs e outros moradores das comunidades Aratapi, Vila
Coroca e Vista Alegre, localizadas no Projeto de Assentamento Agroextrativista Lago Grande e a análise dos dados foi orientada como pesquisa etnográfica. A partir dos anos 2000, projetos de intervenção na região foram desenvolvidos que culminaram em um processo de descoberta do artesanato, na medida em que artesãs e agentes externos passaram a valorizá-lo. Nessa trajetória, algumas mudanças na estética e formas de
produção do artesanato se modificaram, como também a forma de se organizar socialmente. A criação da Associação de Artesãos e Artesãs das Comunidades de Nova Pedreira, Vista Alegre e Coroca (AARTA) orientou a contínua valorização e divulgação desse saber-fazer e como consequência, premiações, lojas físicas, participações em exposições e declaração como patrimônio municipal são algumas materializações do processo de descoberta dos trançados. Os interesses para com os tucumãzeiros também
se alternou: suas folhas, para transformação em palha, passaram a ser mais interessantes do que seus frutos. Na prática, este interesse é orientado pelos conhecimentos apurados e pelas experimentações realizadas para reconhecer os tipos de tucumãs, bem como os
indivíduos tucumãzeiros preferidos. Outrossim, a valorização artesanal conduziu à valorização dos indivíduos tucumãzeiros, através do cuidado, plantio e descarte intencional das sementes, visando a presença e manutenção deles para posterior utilização. Essas práticas foram responsáveis por um aumento na quantidade de árvores nas comunidades, como também de certa aproximação delas às casas, alterando a paisagem local. Assim, o processo de descoberta dos trançados do Arapiuns, baseado na trajetória e atuação da AARTA, propiciou inúmeras mudanças nas formas de interação entre artesãs e entre estas com os tucumãzeiros, outros vegetais e territórios.